Monday, June 30, 2014

Discurso proferido em São Domingos do Prata, quando da outorga do titulo de Cidadão Honorário, em 13 de abril de 1975.


    Exmo. Sr. Prefeito Municipal, Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal, Srs. Vereadores, demais mesários, meus amigos, minhas senhoras, meus senhores, povo Pratiano:
    Há 25 anos, em 2 de janeiro de 1950, tive a ventura de conhecer São Domingos do Prata. Aqui cheguei a convite do então prefeito Dr. José Matheus de Vasconcelos, desejoso de mais um médico na cidade. Oito anos antes eu me iniciara em Pitangui, aonde fui guiado pelo desembargador Onofre Mendes Júnior, grande amigo meu e daquela comuna. Depois de conquistar com ingentes esforços a maior clinica, tive, em 1947, a insensatez de envolver-me na política local. Levei-me não só pela ambição, própria do jovem, como sobretudo pelo desejo de mais servir ao povo pitanguiense. E tal foi o êxito alcançado que logo se me opuseram. Eu era o único vereador ali não nascido que se elegera com expressiva votação, apesar de apenas 5 anos ali domiciliado. Lutei como pude, porém, notei que meus próprios correligionários não viam com bons olhos a minha ascensão popular. E, quando tive minha dignidade atingida pela calúnia, para salvaguardar o futuro e a tranqüilidade da família, ainda em formação, julguei melhor renunciar a tudo, inclusive à Cadeira de Vereador, tão orgulhosamente conquistada. Mas só firmei minha decisão em Belo Horizonte, depois de ouvir os meus familiares. Os contemporâneos de faculdade, amigos e colegas --- Expedito Rolla Guerra e José Lima Drummond , informados de minha resolução, convidaram-me em nome do Matheus para vir até aqui. Eu era o médico do tipo que ele procurava, isto é, com alguma vivência profissional no interior. E a minha já durava 8 anos. Aqui chegando, dirigi-me à Prefeitura e, apresentado ao prefeito Doutor, dali sai conquistado pela sua simpatia e bondade, pois me acolhera como se fosse um velho conhecido. Garanti-lhe minha transferência. Para começar, naquele mesmo dia, anoiteci em uma fazenda do Goiabal, onde fui a chamado, cedido pelo colega. Em termos de Clínica, uma espécie de chamarisco culinário. E gostei do tempero. Entretanto, onde a coragem de mudar-me de Pitangui? Lá não regressei sequer para as despedidas, certo de que seria traído pelo coração.
    Dei procuração ao meu bondoso sogro, Cel. Alfeu Paschoal, para vender minha casa, apurar alguns haveres e vim para o Prata. Nadir seguiu com o pai para fazer a mudança. Três dias depois recebi um seu telegrama: “Povo não concorda sua atitude. Está havendo abaixo-assinado. Responda urgente pelo telefone”. Mostrei-o apenas ao Matheus. Liguei meu velho Ford 34, enfrentei o lamaçal ate Monlevade e reafirmei à esposa minha decisão. A notícia, que estourava como bomba, foi posteriormente por mim esclarecida através do Jornal e em Boletins ao povo, de porta em porta, assim terminados: “A Pitangui adeus, adeus para sempre”. São Domingos do Prata, para onde trouxe a família em 23-03-50, dia do meu natalício, passou a ser razão de nossa existência. Nos primeiros meses vivi como um exilado, desterrado de sua Pátria. Entretanto, fui-me adaptando. Mais vivido, sofrido e experiente, cuidei apenas da Clinica que não foi prejudicada pela volta do Matheus às atividades profissionais. Ele e o Dr. Edelberto já octogenário, tudo faziam para ajudar-me, ao contrário de outros colegas, no inicio de minha carreira. Em janeiro de 53 o velho hospital N. Sra. Das Dores passava por sua pior crise, apesar dos esforços do seu provedor o Bacharel Murilo Furtado Gomes. Numa manhã, para mim inesquecível, o Matheus fechou-se comigo no consultório e pediu-me que assumisse a provedoria. Para ele, a única solução para o caso. Somente um não-prateano poderia tomar as medidas drásticas indispensáveis à salvação do hospital, ou ele se fecharia. Em seu apelo vi uma oportunidade para demonstrar-lhe o meu reconhecimento. E um motivo para trabalhar pelo povo que tão bem nos acolhera. A situação contudo era realmente caótica. Tive que lançar mão do meu crédito pessoal no Armazém do Didi para alimentar os doentes internados. Paguei salários atrasados havia seis meses.
     Fiz, no Banco de Crédito e Comércio, dirigido por meu saudoso amigo Vicente Sales, um empréstimo de Cr$ 25.000,00 em promissória por mim emitida e avalizada com prazo de 120 dias. Algumas verbas Estaduais e Federais haviam caducado, mas havia outras por receber. Comecei a perder o sono, preocupado com as dificuldades .
     Porém,certa manhã, recebi a visita de um representante da Rhodia. Além de amostras ganhei uma estampa, e, ao abrí-la, eis a grande surpresa: um retrato de Nossa Senhora da Farmácia. Ao contemplá-la, tive a impressão de ouvi-la dizer: “Pode tomar as medidas que quiser. Eu te darei a minha proteção”.
     O Matheus me prometera “carta branca” e apoio total. Com sua solidariedade terrena e a proteção celestial da Mãe de Deus, lancei-me à batalha de corpo e alma.
     Na época, havia sido fundado pelo Paulo Moraes um jornalzinho: “Folha do Prata”. Desde menino, fui dado à literatura. Aos 10 anos já compunha meus versos, pois o poeta nasceu em mim antes do médico.
     No jornal pitanguiense "Município de Pitangui”, no qual escrevo há 33 anos, eu tinha uma coluna dominical intitulada “Crônicas”. Pratianizei-a sob o titulo “Coisas que Acontecem”, também aos domingos, sempre com um soneto de minha autoria trazido do oeste mineiro. Tive a idéia de fazer um Concurso de Beleza em benefício do hospital, a Cr$ 1,00 cada voto, mas encontrei obstáculos. O Prata de 53 não admitia tanto modernismo e nas minhas “Coisas que Acontecem”, ainda jovem e inexperiente eu citava coisas e pessoas, em vez de apenas fatos. E isso deu cada azar... Porém, camuflei o Concurso, batizando-o com o nome de Concurso de Beleza e Caridade. Sua vencedora não seria proclamada “Miss São Domingos do Prata”, e sim, “Rainha da Beleza e da Caridade”. A ela eu ofertaria um soneto de minha lavra.
     Pelo jornal exaltei a colaboração dispensada pelo povo ao seu hospital, às portas da falência. Supliquei, versejei, esmolei, vendi votos e não liguei para os derrotistas.
     As apurações do Concurso eram aos sábados, no Clube Pratiano. Sessenta dias depois, o resultado final. Vencedora, Srta. Gessy Perdigão, hoje Sra. Gessy Perdigão de Miranda, minha comadre, madrinha de Crisma da minha caçula.   
     A 2.ª, a Srta. Maria de Lourdes Fraga (Ludi), e em 3.º a Srta. Maura Moraes.
     Em companhia, se não me engano, dos irmãos Adailton e Jairo Braga e do farmacêutico José Cotta, fui comunicar o resultado à ganhadora. Recebeu-nos com sua bondosa austeridade, seu tio, o Juiz de Paz Herculino Queiroz, que me disse: “Agradeço a distinção em nome da moça e só concordo com o título, porque é em benefício do hospital dirigido pelo Senhor, que muito admiro”. Dali partimos em agradecimentos às demais concorrentes, todas satisfeitas em colaborar.
     No dia seguinte, domingo, lá estava na “Folha do Prata” o meu soneto “Caridade” dedicado a Gessy, como prometera.
     E na Conta Bancária do hospital, mais ou menos Cr$ 6.800,00; era o lucro total do Concurso. Recebi algumas verbas atrasadas e, no dia que venceu a promissória, tive a alegria de resgatá-la integralmente, restando um pequeno saldo a nosso favor.
     Parti então para a reforma do prédio. Comecei pela parte alta. Um velho casarão habitado por andorinhas que tive que enxotar. Mas prometi-lhes no soneto “Aves do Céu”: “no velho casarão suave abrigo, em nosso coração um peito amigo”.
     No fim daquele ano, estava concluída a reforma com o nome do hospital pintado na fachada em letras azuis, apesar do provedor ser atleticano.
     Abri uma subscrição popular na barbearia do Nô para custear o fogueteiro comemorativo. Pelo que sei, o maior aqui já havido. Durou das 19 às 21 horas, sem cessar. Foi aquela poluição sonora e gasosa. Algumas velhas, temerosas, passavam correndo pela praça e, vencida a maratona, exclamavam: “Êta homem doido!...”
     Reeleito provedor, reformei a parte baixa, construí outro necrotério e equipei o hospital com materiais indispensáveis ao seu bom funcionamento.
     Em fins de 54 quase tive meu nome envolvido na política. Desta vez, porem, tive a prudência que antes me faltara.
     Nas eleições de 50 ainda não havíamos transferido os títulos para aqui. Agora eu e Nadir éramos eleitores pratianos.
     Colega e amigo de um dos candidatos a prefeito, Matheus, e também amigo do Zinho Drummond e toda sua grande família, somente hoje devo e posso lhes revelar que me mantive neutro. Dos dois únicos votos que eu dispunha dei o meu ao colega, o outro, da esposa, foi dado à dupla, Zinho --- Lúcio Monteiro, e fiquei tranqüilo com a minha consciência.
     Em 55 fui trieleito provedor. Limitei-me a economizar e receber o maior possível de verbas.
     Às minhas expensas viajei a Ponte Nova, Belo Horizonte e Rio, providenciando numerários e, quando tomei posse como médico da Policia Civil, nomeado pelo meu grande mestre e amigo, o então Governador Clóvis Salgado, havia em caixa Cr$ 300.000,00, que naquela época davam para comprar umas 30 casas na cidade. Não posso deixar de destacar aqui a atuação do benquisto pratiano João Braga, que foi meu tesoureiro e a quem chamava e chamo meu ministro da Fazenda.
     Transferindo-me para a Capital, passei o cargo ao vice-provedor José de Castro Drummond, que continuou a mesma política austera e produtiva por nós iniciada. Das cinzas do velho nosocômio, regadas por nosso esforço e estoicismo, surgiu o prédio moderno que enfeita e beneficia a cidade. Fixado na grande metrópole, continuei amigo desta terra e do seu povo, pois só amigos aqui deixei. O que foi e vem sendo minha luta em Belo Horizonte, só Deus o sabe.
    Porém, conquistei meu lugarzinho ao sol, se bem que já sentindo as primeiras brisas glaciais prenunciando o inverno inevitável.
     Remontando-me ao passado, para mim tão grato e às vezes também ingrato, chego a me perguntar, tal Machado de Assis; “Mudaram os tempos ou mudei eu?” E me explico: em 55, minha mudança coincidiu com a formatura, no Grupo Cônego João Pio, do meu filho Fernando. Por alguns generosos colegas dele foi levantada a minha candidatura para paraninfo da turma. Mas meu nome foi democraticamente derrotado pelo vigário de então, Padre Jose Silvério. Meus partidários, meninos todos, ficaram decepcionados. Mas tranquilizei-os, afirmando: “Entre o Ministro de Deus e o Médico que apenas cumpriu com o seu dever, a escolha certa teria de ser como foi. Bola pra frente.”
     Cabem aqui alguns flashes do passado, já que eu estou vos falando como conterrâneo, pelo coração, e pela cidadania tão honrosa que acabo de receber.
     Em 1952, por ocasião das Santas Missões aqui havidas, fui convidado pelo Matheus para saudar os missionários em nome do povo, no dia do encerramento das fervorosas semanas.
     Somente o saudoso colega conhecia meus pendores literários e somente a ele mostrava meus versos, quando chegavam impressos no jornal pitanguiense. Naquele tempo era comum vivermos às escuras. Porém, quando havia luz elétrica na terra, e luz de Deus pelo espaço infinito, a Cruz do Rosário era um espetáculo inspirador de fé e de poesia.
     Preparei o discurso. Li-o empolgadamente no final da Bênção do Santíssimo, ali no adro da velha Igreja e terminei declamando o soneto: “A cruz do Rosário” dedicado a São Domingos do Prata, como está em meu primeiro livro, editado no Prata, o único, pelo que sei “Cantam as Musas”. Fui muito aplaudido  e abençoado pelos padres. Depois do discurso, um amigo que Deus já levou, chegou-se a mim e falou --- “Dr. Geraldo, gostei muito do discurso e dos versos, uma beleza, mas me conta, quem foi que escreveu eles pro senhor?...”
      Ri muito, achei notável o comentário e prometi que um dia revelaria o nome do poeta.
     Quando soube em B. Horizonte que estavam demolindo o velho casarão, não tive coragem de vê-lo em ruínas. Concluído o novo prédio e marcada a sua inauguração, não fui sequer convidado para a ela assistir.
     Meses depois passei por aqui e percorri com o Matheus a nova casa de saúde. Nesse dia, conversamos mais com os olhos do que oralmente. Vimos juntos a placa comemorativa da inauguração. Admiramos o retrato e o busto do Padre Pedro Maciel Vidigal, na época também ilustre deputado federal. O retrato do Dr. Edelberto, que não é o mesmo que eu inaugurei em 05-02-54, data do seu natalício. Entramos na sala com o seu nome, justa homenagem ao venerando colega, e quando Matheus mostrou-me também o retrato dele na portaria, ele se abriu: “Olha, Guerra, apesar de provedor, não sugeri uma dessas homenagens. Meu retrato foi uma oferta do Egidio Zanetti, que não pude recusar.”
     “A partir de hoje, você passa a ter um quarto cativo nessa casa. Sempre que quiser descansar um pouco, venha hospedar-se no hospital. Ele é seu também”. Daí este hábito que tenho quando venho aqui sozinho; mandar pedir ao provedor reinante um lugar lá em cima.
     De Pitangui, saí disposto a não mais voltar, mas a saudade dos amigos me fez visitá-la. E quando lá cheguei em 8-12-55, fui retirado do trem uma estação antes da chegada. Carregado nos braços do povo. Fizemos as pazes.
     Mas a esta altura eu já me radicara em São Domingos do Prata. Em 1965, pela Lei 344 me foi outorgado o titulo de Cidadão Honorário Pitanguiense. Em retribuição, quando, em 1972, tomei posse na Cadeira nº 66 da Academia Municipalista de Letras, escolhi a “Velha Serrana” para ser por mim representada. E prá meu patrono o literato pitanguiense João Alves Corgozinho Filho.
     Hoje, como prova de gratidão, trouxe a São Domingos do Prata o meu grande amigo professor Eugênio Morato, que representava aquela Academia e que é irmão do também professor José Morato. E ele, Prof. José Morato, no seu 2º mandato como prefeito de Pitangui, foi quem me concedeu o titulo de Cidadão Honorário.
     Éramos adversários políticos, mas fomos e somos grandes amigos. Uma coisa é política, outra, amizade.
     “Uma das coisas mais difíceis que enfrentei como provedor do hospital N. Sra. Das Dores, foi o afastamento de Sá Modesta, a bondosa velhinha que há tantos anos vinha nos servindo. Porém, com o passar do tempo, cansada e doente, não mais estava em condições de exercer a função de zeladora. Como é doloroso para quem administra ter que fazer o que não deseja. Pensando resolver o problema de um modo justo e humano, perdi dezesseis noites de sono. Contudo, encontrei a solução: aposentá-la, com salário mínimo da época, Cr$ 350,00, garantindo enquanto ela vivesse. Passei um documento, registrado em cartório, assinado por mim e pelo João Braga. Quando chamei-a para conversarmos, ela, coitadinha, chegou tremendo, julgando que seria dispensada. Mas foi ao contrário, premiada pelos seus esforços. Daquele dia em diante, enquanto viveu passou a receber em casa seu ordenado, pois meus sucessores cumpriram o prometido. Com seu afastamento, a outra enfermeira, Maria da Conceição Duarte, se não me engano, de apelido Filhinha, transferiu-se logo depois para Monlevade. E então eu tive que lançar mão da prata da casa, a Nhá-Nhá do Mané Jacó, que de auxiliar, foi promovida a zeladora. A vida continuou, o hospital não fechou um dia sequer. Deus sempre tem uma pessoa no túnel. A gente pega essa pessoa, põe no time titular e o jogo continua.
     Em 28 de junho de 1968, recebi a infausta noticia: O Matheus falecera. Vim para o enterro, mas não tive coragem de assisti-lo, tal a emoção. Sua morte é uma das coisas com a qual até hoje não me conformei. Passei três anos sem visitar o Prata, pois não me conformava em aqui não vê-lo como sempre, sorridente e amigo.
     Contudo, em 1971, tive de enfrentar a realidade e aqui cheguei para tirar um atestado do tempo trabalhado como médico, para efeito de aposentadoria, junto ao INPS. Fui recebido pelo colega Dr. Antônio Roberto, então à frente da Prefeitura e que tudo me facilitou. Deus não desamparou São Domingos do Prata. Deu-lhe outro médico competente, caridoso e humano na pessoa do caro colega, a quem tanto devemos e que realizou em apenas dois anos de mandato, uma das maiores administrações.
     Construiu uma grande praça, bonita e ajardinada e lhe deu o nome de Praça Dr. JOSÉ MATHEUS DE VASCONCELLOS. Não haveria melhor e mais justa homenagem ao saudoso pratiano. Maior e mais florida que a praça com seu nome, era o coração de quem tanto sacrificou-se por sua terra.
     Há mais ou menos 4 anos, visitando o hospital, fui recebido pelo provedor Antônio Mendes e ele, generosamente pediu-me um retrato para figurar na galeria de seus benfeitores. Avesso a homenagens, relutei em tirá-lo, mesmo porque com essa cara, não de galã, mas de bandido de televisão, não estava disposto a enfrentar os estúdios fotográficos. Porém, há dois meses, contando para meu fraternal amigo José de Castro Perdigão a alegria que tive em ser cidadão honorário de Pitangui, dezessete anos depois de lá sair, e relatando minha displicência quanto ao retrato para o hospital, ele me disse: “Meu filho Ailton Petrônio é agora o Presidente da Câmara Municipal. Além do retrato, também vamos homenageá-lo com a cidadania honorária.”
     E hoje, meus amigos, com o coração jubiloso aqui estou para tornar-me também pratiano. Fiquei emocionadíssimo quando me vi na parede da casa pela qual sempre pelejei.
     Francamente, acho que tanto não fiz para merecer tamanha prova de gratidão, a qual mais credito à generosidade do povo em cujo meio vivi os seis anos mais tranqüilos de minha vida. Em meu vocabulário faltam palavras para agradecer tão grande manifestação.
     Se eu fosse citar os nomes dos amigos que aqui tive, muitos já levados por Deus, ficaria o resto da tarde a enumerá-los. Porém, como os pratianos são quase todos parentes entre as famílias, lembrarei a figura de duas saudosas matronas, englobando nelas as saudações que a todos dirijo, envoltas em meu eterno reconhecimento. Ah! se aqui estivesse D. Leonor Perdigão. Quando poderia imaginar em receber de um de seus netos a cidadania honorária. Teria que abraçá-la e dizer-lhe:
   “Bondosa Dona Leonor:
                Não ouça mais, por favor,
                O tribuno hipertensivo.
                Pois não existe motivo
                de tanta flagelação.
                Os versos sim, deste bardo,
                E a voz do Carlos Galhardo,
                Fazem bem ao coração.”
                Ah! se aqui estivesse D. Julieta Perdigão Mendes, a querida “Vovó Eta” de quem fui clinico durante quinze anos, ajudando-a a suportar seu inverno, mas inverno primaveril. Dela recolhi um dos últimos sorrisos, gravado perenemente no coração e na saudade.
     Meu caro prefeito Antônio Guido: como amigo e pratiano desejo-lhe fazer uma sugestão e um pedido. A sugestão é esta: mande colocar nos cem quilômetros aquém e além de nossa terra esse convite, visando incrementar o turismo, antecipando a vinda do asfalto: “Seja bem-vindo a São Domingos do Prata, a pequena cidade-grande, onde todos são amigos de todos.” O pedido é este: mande iluminar novamente a Cruz do Rosário. Se em 1952, com o Prata praticamente às escuras, ela, quando luminosa, inspirava poesia, como se concebê-la apagada, se temos luz da CEMIG? Em troca lhe prometo mandar erigir, às minhas expensas, uma placa, modesta mas significativa, com meu soneto a “Cruz do Rosário”, assim redigido e atualizado:
                “Aquela cruz erguida para o céu,
                Iluminando a torre da capela,
                é para um povo altiva sentinela,
                um símbolo de fé, rico troféu.
                Ao vê-la assim, sublime, humano réu
                que sou, imploro à luz meiga e singela
                a doce paz da noite calma e bela
                para quem sofre, triste, sempre ao léu.
                A súplica que envolve minha prece
                conforta o coração de quem padece,
                e revigora o ardor dos sonhos meus.
                Então, contrito, eu traço a cruz no peito.
                E num profundo gesto de respeito,
                Volto os olhos humildes para Deus.”

     Não é dado ao homem escolher de quem nascer ou onde nascer. Vim ao mundo pertinho dessas montanhas, na pequena estação de Bandeiras, município de Ponte Nova, em 23-03-18, onde meu saudoso pai era agente. Dali saí nos braços de minha mãe, aos oito meses. E só fui conhecer o meu torrão natal em meados de 53, quando aqui residia, e lá estive em companhia de minha mãe, minha esposa, meus filhos, e levado pelo Urgel, em meu Austin 52. Fizemos o percurso em apenas 3 horas na estrada de terra. Hoje deve ser uma hora e no asfalto. Lá chegando encontrei o agente que sucedera a meu pai, 35 anos antes. Visitei o quarto onde nasci e onde tive o meu primeiro sono interrompido por um apito de trem. Conta minha mãe que meu umbigo fora enterrado sob uma roseira, porque meu pai desejava que minha vida fosse um mar de rosas. Entretanto, Deus sabe quantos espinhos me feriram ao longo da existência. Desejei ver o lendário roseiral. Sabem o que havia em seu lugar? Um pé de mamão, mamão macho. Contou-me o agente que ele sempre brotava, toda vez que parecia fenecer. Então eu pensei comigo: deve ser eu mesmo. No regresso, divisei do alto a pequena terrinha onde nasci. Entre duas colinas, lá estava a casa da estação, o armazém, as ruínas da fazenda dos Bandeiras e como único melhoramento, em 35 anos, um campo de futebol. Fui criado peregrinando por diversos lugares. Onde estive como médico, tive a felicidade de participar da cidadania local. Amo Pitangui e amo S. Domingos do Prata, “Entre les deux mon coeur balance”.
     Amaria tantas cidades quantas habitasse porque minha capacidade de amar é ilimitada, no significado divino e humano do “amai-vos uns aos outros”. Se “somente o amor constrói para a eternidade”, é amando ao próximo que nos preparamos para a vida eterna. Filho honorário de duas cidades, posso escolher entre elas onde repousar eternamente. Se geograficamente S. Domingos do Prata está mais próximo do meu torrão de nascimento, e a ela sendo tão ligado pelos laços de sincera amizade, desejo, publicamente, fazer perante minha esposa, meus filhos, filhas, noras, genro, irmão, cunhados, sobrinhos, afilhados e até o meu primeiro neto, minha família afinal, um pedido eu espero que cumpram: --- quando eu renascer para a vida eterna, coloquem-me à sombra da Cruz do Rosário, perto de amigos aos quais tanto quis, tanto quero e me precederam na vida eterna. Numa lápide singela e modesta, a data do meu inicio de vida terrestre --- 23-03-18 e a de minha libertação. Abaixo, subscrito por minha assinatura, este soneto:
                “Ao transpor os umbrais da eternidade,
                quero levar um lírio na lapela.
                Quero que os sinos toquem na capela
                Anunciando minha liberdade.
                Não sei quando será a hora incerta,
                Mas noutra vida amigos eu terei.
                Milhares que de dores eu salvei,
                e não pude salvar da morte certa.
                De longe eu ouvirei tanger os sinos.
                musas chorando e entoando hinos,
                para eu chegar feliz ao fim da meta.
                A terna amada, os filhos porão luto.
                Amigos renderão o seu tributo,
                ao se extinguir a voz deste poeta.”

REMISSÃO

Deus não fecha a porta da casa dele a uma pessoa por seus equívocos passados.

POR FAVOR

Não me admire demais, posso desapontá-lo.

VIVER

A vida só acaba quando se deixa de sonhar.

UM GRANDE AMOR

Sempre fui da generosidade um velho apaixonado.

FAMILIA

A função da família é buscar a cultura do encontro.

VERDADE

É mais fácil defender-se de um fato verdadeiro do que de uma acusação mentirosa.

PENSANDO

Uma coisa é ter um caso de amor, outra coisa é estar pronto para amar.
Gente,às vezes, questiono essa pouca disposição de mudança que a pessoa madura possui. Carregam debaixo do braço uma cartilha, um esboço, uma" planta" da sua vida. Mudar pra quê? E se não der certo? Ora, minha vida tá tão certinha , e se me envolver sozinho? E se fracassar? Dor de amor em certa idade é devastador...... A vida vai passando e o comodismo e o acovardamento nos distanciam, mais e mais de novas experiências. A maturidade é uma fase bonita, mas a maioria calcula mto bem, os possíveis erros e os possíveis acertos; não se mergulha mais de cabeça, questionamento.....enquanto isso, o tempo mais célere que nunca, vai deixando uma poeira de frustração e um gosto amargo não provado. Medo, comodismo, conformismo , preguiça de tentar. Tentar conhecer o desconhecido, ser mais feliz, ou menos infeliz. Sei lá, tira essa cadeira da sua vida. Ser ridículo é não buscar novos horizontes.....pode sofrer? Sim. Pode ser maravilhoso? Sim. Pode dar com os burros n'água? Sim. Pode viver um gde amor? Sim. Por qto tempo? Não sei, nenhum de nós sabe, mas se vc não tentar...

Friday, June 27, 2014

AOS JOVENS

Há o tempo de se correr e brincar, também  existe o tempo de se nadar no rio e correr pela padaria, mas chega o tempo em que temos de trabalhar naquilo para que fomos talhados. A hora chegou. É agora.
DIA 10 = DIA DA AUTOCONFIANÇA
O nativo deste dia é audacioso, progressista, 
independente , prestativo, amigo, atraente fisicamente, cativante e
sempre pronto a ajudar àqueles que lhe pedem auxílio.
Pelo seu lado atraente e de certa forma arrogante,
normalmente desperta inveja e antipatias. É também de certa forma possessivo com suas coisas, amigos, sócios e cônjuge.
Para ter sucesso profissionalmente, deve desenvolver a 
espiritualidade, pois caso contrário pode ser envolvido por pessoas
inescrupulosas que tudo farão para o arruinar, e caso não possua esta característica, dificilmente terá competência para solucionar seus problemas. Sendo líder por natureza, ou trabalha só, ou em cargos de chefia, de preferência no ramo da engenharia, metalurgia, comércio, vendas ou diretamente com o público, pois é muito convincente. Deve evitar todo e qualquer tipo de vício,
principalmente o fumo, pois as suas vias respiratórias são frágeis e
sofrerão terrivelmente com este vício.

Thursday, June 26, 2014

ORAÇÃO DO AMANHECER

Senhor ,no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te a paz, a sabedoria, a força.
Quero olhar hoje o mundo com olhos cheios de amor; ser paciente, compreensivo, manso e prudente, ver além das aparências teus filhos como Tu mesmo os vês, e assim não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade. Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos quantos se achegarem a mim sintam Tua presença.
Reveste-me de Tua beleza, Senhor, e que no decurso deste dia, eu Te revele a todos.

ORAÇÃO DO PERDÃO

Buscando eliminar todos os bloqueios que atrapalham minha evolução, dedicarei alguns minutos para perdoar. A partir deste momento, eu perdôo todas as pessoas que de alguma forma me ofenderam, injuriaram, prejudicaram ou causaram dificuldades desnecessárias. Perdôo, sinceramente, quem me rejeitou, odiou, abandonou, traiu, ridicularizou, humilhou, amedrontou, iludiu.


Perdôo, especialmente, quem me provocou até que eu perdesse a paciência e reagisse violentamente, para depois me fazer sentir vergonha, remorso e culpa inadequada. Reconheço, que também fui responsável pelas agressões que recebi, pois várias vezes confiei em indivíduos negativos, permiti que me fizessem de bobo e descarregassem sobre mim seu mau caráter.


Por longos anos suportei maus tratos, humilhações, perdendo tempo e energia, na tentativa inútil de conseguir um bom relacionamento com essas criaturas.


Já estou livre da necessidade compulsiva de sofrer, e livre da obrigação de conviver com indivíduos e ambientes tóxicos. Iniciei agora, uma nova etapa de minha vida, em companhia de gente amiga, sadia e competente: quero compartilhar sentimentos nobres, enquanto trabalhamos pelo progresso de todos nós.


Jamais voltarei a me queixar, falando sobre mágoas e pessoas negativas. Se por acaso pensar nelas, lembrarei que já estão perdoadas e descartadas de minha vida íntima definitivamente. Agradeço pelas dificuldades que essas pessoas me causaram, que me ajudaram a evoluir, do nível humano comum ao espiritualizado em que estou agora.


Quando me lembrar das pessoas que me fizeram sofrer, procurarei valorizar suas boas qualidades e pedirei ao Criador que as perdoe também, evitando que sejam castigadas pela lei da causa e efeito, nesta vida ou em outras futuras. Dou razão a todas as pessoas que rejeitaram o meu amor e minhas boas intenções, pois reconheço que é um direito que assiste a cada um me repelir, não me corresponder e me afastar de suas vidas.


Agora, sinceramente, peço perdão a todas as pessoas a quem, de alguma forma, consciente e inconscientemente, eu ofendi, injuriei, prejudiquei ou desagradei. Analisando e fazendo julgamento de tudo que realizei ao longo de toda a minha vida, vejo que o valor das minhas boas ações é suficiente para pagar todas as minhas dívidas e resgatar todas as minhas culpas, deixando um saldo positivo a meu favor.


Sinto-me em paz com minha consciência e de cabeça erguida respiro profundamente, prendo o ar e me concentro para enviar uma corrente de energia destinada ao Eu Superior. Ao relaxar, minhas sensações revelam, que este contato foi estabelecido.


Agora dirijo uma mensagem de fé ao meu Eu Superior, pedindo orientação, em ritmo acelerado, de um projeto muito importante que estou mentalizando e para o qual já estou trabalhando com dedicação e amor.


Agradeço de todo o coração, a todas as pessoas que me ajudaram e comprometo-me a retribuir trabalhando para o meu bem e do próximo, atuando como agente catalisador do entusiasmo, prosperidade e auto realização. Tudo farei em harmonia com as leis da natureza e com a permissão do nosso Criador, eterno, infinito, indescritível que eu, intuitivamente, sinto como o único poder real, atuante dentro e fora de mim.


Assim seja, assim é e assim será.


São Domingos do Prata


Às margens de um riacho murmurante,
e à sombra de uma cruz, num belo outeiro,
vive um povo tranquilo, hospitaleiro,
e andorinhas chilream cada instante.

Nas ruas de passado relevante,
Há flores nos jardins, pelo ano inteiro.
E musas a sorrir, de olhar fagueiro,
Acenos de ternura ao caminhante.

Aqui vivi, amei e fui feliz.
Depois me transferi não porque quis.
E aqui repousarei um dia, enfim.

Ao percorrê-la a pé, canto por canto,
entendo por que Cristo chorou tanto:
Jerusalém devia ser assim.