Friday, June 09, 2017

LIDERANÇA

Eu achei que o telefone nunca iria parar de tocar. Já eram 4h da manhã e eu podia ouvir o celular vibrando, mas sem som. Debaixo daquelas cobertas não conseguia encontrá-lo de jeito nenhum.

Vruuuuuuuummmmmmm. Vruuummmmmmmm. Vrummmmmmm.

Quando olhei para a tela, eu vi o DDD. Era código de área 21, do Rio de Janeiro. 

Senti que boa coisa não era.

Atendi. Era um cliente nosso furioso. Furioso é ser gentil. Ela soava como o Taz, aquele desenho do animalzinho da Tasmânia.

No vigésimo nível de raiva.

Falei com ele e tentei descobrir o que estava acontecendo. Depois de alguns minutos (que pareciam dias), ele se acalmou o suficiente para me contar o que houve.

Ele estava negociando com investidor da Holanda para vender parte da empresa. Namoravam há meses e finalmente o investidor parou para ouvir a proposta do site dele, que havia crescido MUITO nos últimos anos (grande parte pelo trabalho das minha agência que atendia ele na época).

Quando ele foi acessar o site no computador para mostrar para o investidor… o site estava fora do ar.

Ele não sabia onde se enfiar de vergonha. E com razão queria o meu pescoço, pois nós havíamos dado de brinde a hospedagem para o site dele quando ele contratou a nossa agência.

Moral da história? Perdemos o cliente, que representava 20% de nosso faturamento. Por falha em um serviço que não era nosso foco e custava menos de 3% da fatura. Ele ficou muito magoado, não houve nada que o fizesse mudar de ideia.

Manhã seguinte, vou fazer reunião com a equipe e descobrir o que houve.

Eles estavam muito quietos. Muito estranho.

Um deles pediu a palavra e disse: “Nós conversamos esses dias e combinamos que eu falaria em nome do grupo. Queremos pedir demissão.”

Eu fiquei em choque.

Como assim? Mas o que houve?

“Nós sentimos que as coisas andam muito bagunçadas por aqui. Você não conversa conosco e estamos sempre apagando incêndios. Nossa decisão não é uma negociação, ela é final”.

Eu fiquei sem reação enquanto os 6 funcionários levantam e se retiravam da sala.

Como as coisas chegaram nesse ponto?

Perdi um de nossos clientes mais importantes e quase toda minha equipe no mesmo dia.

Como isso foi acontecer?

Agora, depois de quase 10 anos eu descobri a resposta. Mas levei um bom tempo para processar até descobrir de quem era a culpa por aquele tragédia na época.

A resposta? Era minha.

Nossa empresa é um navio. Sua equipe são os marinheiros, remando, remando para fazer a empresa andar para frente.

E você? Você é o capitão.

Só que naquela época eu não agia como capitão. Não pensava como capitão. Não liderava com capitão.

Eu estava tão imerso nas loucuras do operacional, do dia-a-dia da empresa, tentando apagar incêndios que na verdade eu era… um marinheiro de luxo.

Meu navio não tinha um líder.

Consegui a muito custo contratar uma nova equipe, que levou meses para ganhar entrosamento.

Conseguimos encontrar novos clientes com o tempo. Até maiores do que aquele.

Mas isso só foi possível quando eu entendi 3 coisas:

1. Os Melhores Trabalham Com os Melhores

Os melhores talentos não vão querer trabalhar para você se você não tem uma visão clara de para onde está indo. Eles podem conseguir trabalho em qualquer lugar, porque iriam ficar em um lugar que não tem um destino claro e desafiador?

Os melhores profissionais vão se sentir atraídos pelo desafio da missão, não somente o dinheiro ou benefícios. Aqueles que só querem o dinheiro não são profissionais. E sua empresa não precisa deles.

Mas se você não tem como atrair os melhores, tem que se contentar com quem topa embarcar no seu navio.

2. Não Adianta Tapar Buracos, Saia do Meio das Pedras

Muitos empreendedores na verdade são bombeiros: vivem para apagar incêndios. Chegam no trabalho e passam o dia resolvendo problemas operacionais, pepinos e abacaxis.

E como você nunca para pra pensar na parte estratégica da empresa, é claro que mais e mais pepinos vão surgir. Não adianta focar em tapar buracos no barco, se continua navegando no meio das pedras.

Pensar no estratégico muda sua rota e os buracos vão diminuir por consequência.

3. Quem Anda Com Capitão, Aprende a Pensar Como Capitão

Você precisa aprender a pensar e agir como capitão. A ter tempo e olhar seu negócio de forma objetiva, com olhos de quem esta de fora dele. Do contrário, seu olhar acaba ficando viciado e perde valor.

Você já sabe ser marujo. Já sabe fazer o operacional, isso 9 em cada 10 empreendedores que conheço já é bom em fazer.

Mas quem te ensina a pensar como capitão? E pensar a estratégia do negócio? A não somente enfrentar o mar bravo, mas a evitar as tempestades?

Comece a andar com outros empreendedores que são capitães. Empresários que já conseguiram se liberar do operacional e agora focam em coisas de grande impacto, não mais em tapar buracos.

Eu quase perdi minha empresa na época para aprender essa lição. Espero que essas 3 dicas possam fazer você se sentir desconfortável. Que elas motivem você a tomar a ação e mudar a rotina da sua empresa.

Para que seus clientes e funcionários saibam que mais que um amigo, eles tem um líder que podem confiar para enfrentar a tempestade que for.

Como um verdadeiro capitão.