Wednesday, October 11, 2017

TIA IVONE

Toda vez que algo me incomoda ou dói, venho para o meu canto e ponho-me a escrever.

Aos oito anos de idade conheci os tios Arzelino e a tia Ivone. Lembro-me que passamos um Ano Novo na casa deles em Timóteo. A minha mãe e o tio Arzelino eram os irmãos mais novos da família de Vovô Neco e Da. Cota. Segundo minha mãe,  ela era apenas um ano mais nova do que a Tia Ivone. Como minha mãe perdeu os pais aos doze anos, a tia Ivone tornou-se além de cunhada,  uma amiga-confidente, com uma certa cumplicidade entre elas.

Anos mais tarde, o Vanderlei precisou estudar em Timóteo e foi acolhido pela Tia Ivone (que o chamava de filho adotivo), como se não bastasse, posteriormente, o irmão Reinaldo também foi acolhido pelos tios. Na verdade não fosse o amparo deles, meus pais teriam sérias dificuldades para encaminhá-los nos estudos, então estes tios foram maravilhosos conosco, não há nada que possamos ser tão gratos.

A nossa convivência estreitou-se e tornamo-nos mais próximos. A tia Ivone teve dez filhos: Graça, Zozô, Magda, Angélica, Jackson, João, Lalá, Geraldo, Do Carmo e Ronaldo. Já a minha mãe teve oito filhos e todos nós nos conhecemos e até os netos se conhecem. A graça divina nos foi dada e certamente farão esta amizade continuar.

Tia Ivone não me tratava por Petrônio, só por "Toninho" apelido de menino. Escrever sobre essa tia que virou luz no dia 03 de outubro de 2017 é para mim motivo de emoção e muita gratidão por tê-la tido conosco por 94 anos. Pessoa serena, suave, doce, sem perder a força que abrigava a sabedoria, espalhou amor por entre todos nós.

Alimentava-nos de um amor tão puro que emanava experiência e até poesia, pois já a surpreendi lendo as poesias de Cecília Meireles. Decidi que ao invés de tristeza optaria pela gratidão de ter com Ela convivido. Um fato interessante chamou-me a atenção no hospital, durante o seu último internamento, era mais ou menos 13h e por alguns minutos ficamos a sós no apartamento, e Ela embora, com certa dificuldade, fez-me a seguinte pergunta: "Meu filho, você já almoçou?". Respondi que sim, e na estrada quando retornava para o Prata,  fiquei a pensar como uma pessoa nessas circunstâncias em que Ela se encontrava, faz-me uma pergunta daquela natureza. Chorei sozinho. Ela continuava a nos oferecer acolhida e colo.

Em minhas orações supliquei a Deus que desse a Ela a chance de voltar para casa, não foi possível, não sei qual a avaliação de Deus, provavelmente  Ele estava precisando de alguém bom de coração, humilde, de caráter, para lá do céu emitir mensagens que nos ensinassem a valorizar a família, a amar mais ainda nossos filhos, a ter respeito pelas pessoas mais simples e menos favorecidas.

Formava com o tio Arzelino um casal que mantinha uma certa rigidez na criação dos filhos, rédeas curtas e pulso firme, mas sem abandonar a flexibilidade também importante na vida. As atitudes tomadas tinham intenção de corrigir, proteger, ensinar e direcionar cada filho ou filha no caminho da sensatez, do respeito, do compromisso e da responsabilidade; qualidades essenciais a cada um de nós. Sinto-me  abençoado e feliz, voluntariamente grato  por tê-la tido como "Tia Estrela Guia".

Um abraço de gratidão extensivo a cada um de seus filhos e netos e que as bençãos da Trindade Una permaneçam em suas vidas, de forma particular e coletiva.

Termino homenageando-a  com muitas saudades, mas com gratidão pelo exemplo que nos deixou, pois na senhora tudo era bonito, tudo era verdade.


"BENÇA" Tia!